Autor: Maurílio de Oliveira

Sambista, integrante dos Prettos, cantor, musico, compositor, produtor, fundador e diretor musical da Comunidade do Samba da Vela https://www.youtube.com/shared?ci=9sd5UsEQwKY

5 anos de “Quintal dos Prettos

Neste domingo, dia 7 de Maio, o “Quintal dos Prettos” completa mais um ano de vida.

Se você é uma pessoa que costuma acompanhar ou frequentar lugares ou movimentos de samba, certamente conhece ou já ouviu falar do “Quintal dos Prettos”, uma roda de samba totalmente acustica que acontece todo 1º domingo de cada mês em São Paulo, mais precisamente no Maria Zélia, local tradicional da cidade.

A inspiração da criação do Quintal dos Prettos provém de um movimento muito importante gerado na década de 1980, tendo como base o Gr. Fundo de Quintal que recém lançados na época por Beth Carvalho, conseguiu fazer com que o país todo tivesse conhecimento do pagode de mão para os mais antigos e pagode de mesa para os mais novos. Com isso o pagode finalmente se tornou uma linguagem global entre os sambistas no país todo.

Já na década de 90 o pagode acabou se tornando algo pejorativo na visão de alguns veículos de comunicação e isso gerou um tipo de enfraquecimento na contextualização do pagode. Não por isso! Independentemente de suas novas influências e formas, a força das canções continuaram mantendo-se mais vivas até os dias de hoje com inúmeras regravações das mesmas.

Passados trinta anos eu, Maurílio de Oliveira, meu irmão Magnu Sousá (Prettos), junto à nossa grande produtora Margareth Valentim, criáramos o Quintal dos Prettos, uma roda de samba sem microfones, onde conta com a participação ativa do público. Enquanto a mesa dos músicos ao centro conduz, o povo é quem interpreta a canção. A ideia principal é trazer essa experiência para o público atual. Para nós é de suma importância esse reencontro da pessoa consigo mesma, através da energia que o Quintal nos revela quando cantamos juntos.

Enfim. O Quintal dos Prettos é um misto de todas as boas sensações que a música é capaz de nos proporcionar. Sejam elas emotivas, transformadoras, materiais, espirituais, intelectuais e sobretudo deliriosas. Viva o Quintal dos Prettos para sempre! Parabéns Quintal.

“Dia da Consciência negra”

Aqui o nosso ideal é reverenciar o empretecimento com legitimidade e não o contrário. Aqui a gente não luta pelo direito de ter ou ser o que eles são, mas sim pelo que temos e somos na essência. Aqui nós usamos nossos direitos para desejarmos ainda mais nosso universo sem comparação ou referência ao deles. Aqui somos realmente felizes com o que somos e temos. Todo resto não passa de pura ilusão.

“FALSOS MORALISTAS”

As vezes me pego pensando nesses posts com artigos numerosos de pessoas impondo a forma a qual elas acreditam que devamos pensar. Vejo pessoas o tempo todo ditando regras as quais, elas acreditam que devamos seguir. Mas de verdade o que não entra na minha cabeça é o como as palavras dessa gente vão totalmente contra suas ações. Não passam de pessoas que querem ter suas ideias executadas por outras pessoas, mas nunca por si mesmas. Elas nos dizem ( Você tem que ser assim, você tem que fazer assado, você tem que pensar desse jeito, você não pode acreditar naquilo ou seja você, voce, você, você. Tudo você, já elas mesmas, como sempre, nada! Criticam o sistema, o jeito, a cor, a religião de outras pessoas, criticam um pouco de tudo que acontece. E quando procuramos uma ação sequer dessas pessoas que criticam o mundo a sua volta, simplesmente não encontramos. Não as vemos fazer nada revelante que contribua de alguma forma na luta por um país melhor. Enfim, não encontramos nada além de palavras. Atualmente o que mais temos encontrado na vida, são pessoas que vêem a árvore mas não enxergam a floresta. Pessoas egocêntricas com o olhar voltado apenas para si. Não é à toa que a gente muito raramente vê pessoas bem de vida fazendo algo para melhorar a vida das pessoas mau de vida. Infelizmente!

Obstáculos

Todos temos o direito de decidir a vida livremente, porém sabendo que toda decisão tem sim, suas consequências. Seria tolice pensarmos que só existe um lado da moeda. Por isso redobramos nossas atenções nas coisas às quais desejamos. junto ao emprego vem o trabalho, junto ao trabalho vem o cansaço, junto ao cansaço vem a experiência que nos fará decidir o próximo passo. É neste exato momento que a gente percebe se o esforço está ou não valendo realmente a pena. Afinal, tudo que se concluí de alguma forma, revela o resultado. Este pode ser bom ou ruim, satisfatório ou não. Porém o mais importante de tudo isso é sempre lembrarmos que altos e baixos fazem parte do processo, principalmente no começo e cabe a nós continuarmos evoluindo, tentando ou simplesmente sermos fracos e desistirmos no primeiro obstáculo.

“A hora de mexer no time”

Por mais doloroso que seja, na vida sempre chega aquele momento em que somos forçados a mexer no time. Se vai dar certo, não sabemos porque o time é aquela engrenagem a qual todos os convocados precisam estar devidamente preparados e atentos. Cada um de nós deve fazer sua parte e manter-se na posição. Todo cuidado é pouco tanto antes, quanto durante e depois.

Nosso objetivo principal é sim, primeiro fortalecer os nossos, porém a experiência sempre nos revela o outro lado da moeda. Concluir com sucesso não é uma tarefa fácil e tem coisas que não nos permite uma segunda chance. Já tivemos pessoas que não aceitam chamada de atenção, pessoas que não entendem que elas mesmas pararam no tempo e as piores que são aquelas que não aceitam regras. Trabalham bem quando a coisa é solta mas, quando vem a regra se perde, não dá conta e joga a culpa em alguém.

Enfim, mexer no time dói porque existem outras coisas envolvidas além do trabalho e na maioria das vezes são coisas sentimentais. Mas quando a gente coloca um evento na rua, o risco é todo nosso, a gente assume um compromisso. O público não quer saber se somos iniciantes ou experientes, amigos, inimigos ou parceiros. O público só quer ver acontecer aquilo que lhe foi prometido. E é exatamente por essa razão que as vezes somos obrigados, felizmente ou infelizmente, a mexer no time e resolver o jogo!

Viva o Quintal dos Prettos 2022

“A palma da mão”

“O instrumento mais importante do samba é a palma da mão por manifestar os quatro elementos mais importantes da vida num unico momento”

1.“A palma da mão usa compressão e descompressão do ar constantemente para gerar o som”

2. Este mesmo movimento gera o calor que aquece o sangue, aquecimento este simbolicamente representado pelo “fogo”.

3. O calor do fogo nos faz transpirar e transpiração é “água”.

4. Todos estes elementos justos geram vibração. Vibração é matéria, matéria é corpo e corpo é “terra”.

“Missão de vida”

“Nossa missão de voltar a ser luz é algo muito sagrado”. É uma conversa interna, diária. É olharmos no espelho e refletirmos sobre o como será porque o que foi, foi e não dá mais pra voltar e consertar. Mas que presente é o presente, não é mesmo? Papai do céu realmente pensou em tudo. Coisa boa demais! São muitos pontos de reflexão, mas vou focar apenas em alguns e um deles é a gratidão. “Algo que nem todos terão por nós, mas todo aquele que nos deu braço e força deve ser lembrado por nós em oração”. Respeito: É aceitar o que outro é ou deseja ser mesmo que nos gere estranheza à primeira vista. Talvez nos falte entendimento para tal propósito no primeiro momento. É de cada um, mas todos somos capazes de ser mais flexíveis para certas coisas no geral. Lealdade: “Cumprir com o combinado nem sempre é possível de todo quando o mundo não ajuda”. Somos rodeados, encarcerados, dominados, escravisados pelos estímulos criados por este sistema capaz de destruir quase toda forma de amor que se possa imaginar. As vezes nos vemos totalmente perdidos em determinadas situações e uma delas é a tradicional falta de dinheiro e enquanto esta encontra-se à frente do restante, fica muito difícil enxergar além. Assim acaba que tomamos decisões que podem salvar o momento, mas infelizmente comprometem o futuro. Importante lembrarmos que a lealdade, o respeito e a gratidão são pilares de suma importância na missão de voltarmos a ser luz. A pessoa que perde sua confiança sofre muito, mas um dia ela supera e segue a vida. Já você passa a carregar o peso desta consequência para o resto da vida. “Pessoa leal a pessoas, pessoa leal a Deus”. E tudo aqui neste plano não passa de um grande teste para cada um de nós. Asè!

“Propósito de vida”

“Tenta ter o propósito de viver a vida o mais bonito que você puder. Não é fácil atingir tal plenitude, mas nunca deixe de tentar”. Talvez a parte mais difícil do processo seja o não. Dizer sim para tudo é também dizer não para coisas talvez até mais importantes para si. Nossa velha mania de criarmos monstros em tudo dificulta a caminhada. Quando não é o medo de magoar quem amamos, é o medo da responsa do brilhar. Quando não é o pavor daquilo que exijam que sejamos, é o medo de darmos errado naquilo que de fato gostaríamos de ser. Revólver na cabeça o tempo todo. E pior, a droga do medo do que vão pensar. Isso sim é foda. As vezes é preciso criar um mundo paralelo, onde o sucesso é você consigo mesmo. O famoso, o profano, o sagrado, o milionário de si mesmo, o artista do chuveiro que canta para um milhão de pessoas na imaginação, o protagonista de seu próprio filme chamado “Que se foda o mundo”. No entanto, perdoar essas pessoas. Isso talvez seja o grande passo para a plenitude de vivermos bem, mas antes devemos perdoar a nós mesmos. O outro pode até rejeitar, reprimir ou repudiar nossas ações, mas nunca se sabe. Nunca sabemos de fato se tal ação é para nos derrubar ou evoluir ou se é apenas para nos testar, mas só o fato de sabermos que Deus no todo existe, já estamos em vantagem. Daí então, só nos resta saber o melhor caminho a seguir. Entre evoluir e definhar, eu fico com a primeira opção. Espero que você também! Asè!

“Seja livre de verdade”

E quando na vida parece muito fácil se perder, muito mais difícil é se achar. Ver beleza onde quase ninguém vê, enxergar além do olhar e ir além até mesmo do simples fato de não entender. Sentir sem ouvir e ver, mesmo sem compreender. Acreditar no sentimento puro, desprovido de toda e qualquer vaidade e seguir. Se envolver, se entregar. Entrar na chuva de roupa e tudo e ainda deitar no chão de braços e olhos abertos, de barriga pra cima. E sem contar gotas, deixar cair aquele aguaceiro na cara. Sem pressa, sem hora e sem culpa. Simplesmente ligar o foda-se!

Não sei como chegamos ao ponto de deixar nossa felicidade nas mãos do alheio. Não sei como deixamos nossa felicidade depender de alguém ou algo para existir. Onde está toda aquela beleza que o mundo nos enfiou “guéla à baixo? Então era tudo mentira ter carrão, ser rico, famoso e andar acompanhado só de gente “bonita”, de pessoas reformadas, informadas, emponderadas e morar num bairro nobre?

Isso só me deixa claro que se a gente não disser não para esse Reality que estão nos impondo, nunca seremos felizes de verdade. Estaremos sempre insatisfeitos com alguma coisa em nós ou em tudo um pouco. Não podemos mais perder nossas vidas concentrando nosso suor naquilo que será visto apenas com os olhos de fora. Nossa alma memoriza nossas ações e é exatamente por isso que nosso corpo não deve fazer o que nossa alma condena por capricho de outrem. Viva a liberdade interior!

“21 anos de Samba da Vela”

Quando fundei a Comunidade Samba da Vela, junto a meus parceiros Magnu Sousá, Chapinha e Paqüera, eu tinha apenas vinte anos de idade e embora não parecesse, eu já tinha uma breve noção do sucesso que viria a ser, não para com o grande público, mas sim entre nós, a casta de compositores que ali viria a se formar. Enfim, criamos um espaço onde pudéssemos nos expressar musicalmente. Nascia então, este grande quilombo de poesias musicadas, cujo objetivo era de não deixa-las mais tempo do que já estavam no fundo da gaveta, além do fato de que uma só gaveta já não era o suficiente há muitos anos. É muita coisa guardada, tanto que já se passaram vinte e um anos e não conseguimos mostrar nem metade das composições. Mas o processo de formação da Comunidade influenciou muito e naturalmente fomos obrigados a compor novos sambas os quais tomaram à frente de muitos outros que estavam na fila há um bom tempo. Alguns nem chegaram a ser apresentados. Na busca de uma identidade própria, tivemos que tomar algumas duras decisões durante o processo, principalmente com a chegada dos demais compositores. Amadores em sua maioria ou iniciantes no modo geral, eles primavam de um certo vício cultural das ruas e isso nos obrigou a reprogramar uma nova conduta naquele ambiente exclusivo para apresentação e apreciação de novas obras musicais, sobretudo o Samba. Alguns entenderam, outros torceram o nariz. Afinal, seguir regras é para poucos. Lei primordial na Vela era manter o silêncio no local. Outra muito importante era a participação ativa na apresentação dos outros irmãos de samba, se a gente percebesse que tal compositor não fortalecia a obra do colega também compositor, a multa era perder a inserção de seu samba no livro de sambas da Comunidade Samba da Vela. Outra regra, além de várias que um dia vou revelar aqui, era acender uma vela verde toda vez que alguém da comunidade fosse a Oló (Morresse). São detalhes que enriqueceram absurdamente a história do Samba da Vela, despertando a curiosidade de milhares de pessoas no mundo todo. Foi assim que durante todos esses anos a gente se doou para reeducar muita gente que mal dava atenção devida para o nosso samba até então, mas depois passou a dar. Acabamos comprando a briga que ninguém queria comprar, mas por um grande motivo. Até que conseguimos transformar essa briga em uma grande conquista e hoje ela é usufruto de inúmeros compositores. Nossa meta de profissionalização dessas pessoas na música, só não fora alcançada porque o objetivo da maioria não era viver de música. Poucos entendiam o movimento como um trabalho ou algo paralelamente rentável. Encaravam como hobby. E até hoje muitos ainda não se deram conta de que a música nunca esteve apenas em rádios e programas de tv. Comerciais de carro, de roupas, de bebidas e muitas outras milhares de ações altamente comerciais sempre ligaram nossos valores afetivos à música e consequente a produtos comerciais. Direta ou indiretamente a música sempre foi algo paralelamente comercial no giro de receitas de direitos autorais. Foi aí que a gente inseriu pessoas, afim de fazê-las entender que uma produção artístico-musical pode gerar emprego para muita gente. Finalizo esse texto dizendo que para mim a Comunidade do Samba da Vela vai além de um aparelho cultural. A Vela é um processo! Algo pensando estrategicamente para a verdadeira evolução do núcleo, onde o samba vem para ter mais estrutura e dar suporte para todo aquele que pretende viver dele. E equalizar nossa composição humana na vida em sociedade. Embora isso não tenha passado de um sonho, viva seus vinte e uns anos de resistência!